Questão de pele... (minhas tatoos)

06 agosto, 2012

É que eu quero evitar a fadiga!

Outubro de 2011, Aeroporto Tancredo Neves, Belo Horizonte, Minas Gerais. Vôo marcado para as 20 horas. Olho no relógio 14:10hs. Não tenho duvidas: preciso adiantar meu vôo!
Sozinha, e nada disposta em passar mais seis horas após um final de semana exaustivo longe de casa, me dirijo ao guichê da companhia aerea pra saber se haveria como adiantar meu retorno à São Paulo.
Explico minha novela mexicana ao rapaz do check in , e recebo a boa noticia: Podemos sim adiantar seu vôo senhora. Temos uma aeronave de Buenos Aires que fara uma parada em Guarulhos no Aeroporto de Cumbica.
Maravilha!!! Pensei eu.
Contudo meu panico começou qdo o moçoilo disse que o tal voo sairia as 15 horas. Olho no relógio e vejo os ponteiros marcando 14:30hs.
Me apresso em dizer para o moço que não daria tempo de chegar ate la, pois o local de embarque ficaria mais ou menos para uma pessoa que ande depressa uns 20 minutos dali.  Mas que pra mim com meus passinhos eleganterrimos de quem anda a passear pela vida , seria praticamente impossível chegar no horário.
O moço insistente me garantiu que daria tempo sim, isso, se eu não parasse em lugar algum, e pegasse a escada rolante à direita, que ficava após a longa caminhada até o final do corredor esquerdo em frente ao  posto da policia federal! Aff! Cansei só de pensar!
Muito boba ( pois não insisti na minha realidade e necessidade) e focada em chegar mais cedo em casa, peguei minha bagagem de mão e saí decidida a chegar em tempo até o local de embarque.
Não demoraram 10 minutos pra minha primeira parada!
Precisava urgentemente fazer xixi, não tinha como não parar ali. Ou eu seguia em frente e arcaria com transtornos maiores (se é que me entendem) ou pararia e faria meu xixizinho em paz para daí então rumar ao avião.
Olho no relógio, faltam vinte minutos para o vôo sair. 
Olho para o percurso, vejo que ainda falta um bocado.
Olho para as minhas pernocas, e constato que elas estão cansaderrimas, e não merecem tamanho esforço depois de um final de semana de trabalho.
Não pensei duas vezes, preciso de uma cadeira de rodas!!!
Ao avistar o primeiro representante da companhia aérea com o uniforme da empresa que realizaria meu vôo, solicitei:
"Moço, por gentileza, sou paciente de Esclerose Múltipla, tenho mobilidade reduzida e estou prestes a perder meu vôo preciso de uma cadeira de rodas urgente, ou senão só sairei daqui as oito horas da noite."
O moço muito gentil, me explicou que eu deveria ter requisitado a cadeira no local de despache das malas, que naquele momento não haveria como me auxiliar.
Minha cara de boa moça, meu tom de voz doce e meu ar de pessoa simpática desapareceram naquele instante e eu disse: " Acho que você não esta me  entendendo, eu sou paciente de ESCLEROSE MÚLTIPLA, tenho MOBILIDADE REDUZIDA e avisei na hora de trocar meu vôo que não daria tempo, mas o rapaz insistiu, agora o senhor por favor me providencie uma cadeira de rodas porque eu NÃO VOU perder meu vôo."
Como num passe de mágicas, la estava eu, sentadinha de cabelos ao vento com um comissario lindíssimo me empurrando. kkkk
Enquanto o moço me empurrava, milhares de coisas passavam pela minha cabeça. Lá no aeroporto as pessoas não podem guiar sozinhas suas cadeiras qdo direcionadas ao avião, então, eu olhava pra mim naquela situação que nem sonhava viver e sentia um constrangimento enorme. 
Era um misto de vergonha, com a necessidade de estar ali. Minhas pernas de fato ja não tinham forças pra seguir, eu estava muito fadigada, com as pernas trêmulas, não havia motivos para não requerer algo que me era de direito.
Chegamos! 
O moço suando com o esforço de levar uma "bailarina" (fora de forma) apressadamente por aquelas rampas em zigue e zague! E eu, não sabendo como agradecer. 
Fui a ultima a entrar no avião, afinal, ele estava ali devido a uma parada.
Foram 1hora e 30 minutos de viagem. Sentia minhas pernocas descansadas voltando ao normal. Nada mais em mim tremia ou pulava de cansaço.
Dali a pouco ouvi que iriamos aterrizar. Uma comissaria muito simpática veio ate mim e  disse que eu seria a ultima a desembarcar, pois também era um procedimento da empresa que os cadeirantes fossem os ultimos a saírem das aeronaves.
Euzinha, descansada e cheia de animo em estar de volta à minha terrinha, me apressei em ficar em pé e disse: "Não, não minha querida! Ja estou legal, posso sair andando agora!"
O semblante da moça mudou instantaneamente. Parecia q ela queria arrancar a minha cabeça do pescoço! Com cara de não estou achando a menor graça, ela ficou durante segundos inerte olhando fulminantemente pra minha cara.
Seria uma pegadinha? 
Seria eu uma falsa cadeirante? 
Ou seria um milagre divino?
Não ousei fazer nenhuma gracinha, assim como não achei seguro dar muitas explicações.
Deixei para traz a cadeira que havia me levado ate o avião, juntamente com a moça que a segurava com  a maior "cara de taxo..."

As pessoas acham engraçado qdo conto essa historia, mas a verdade é que pude aprender algumas coisas com relação a mim mesma.
Tenho que estar muito ciente da minha realidade para que meu corpo não padeça. Se eu tivesse sido firme que não daria tempo, não sairia feito doida sem rumo, tensa me cansando e me estressando a toa pelo aeroporto.
Aprendi que independente de onde eu esteja, quando preciso ser firme em algo que é meu por direito, terei que ser firme e pronto. Nao me importando com  o que as pessoas irão pensar.  
Eu não estava bem naquele momento e necessitei da cadeira de rodas. Passado algum tempo voltei ao meu normal oras; quem há de argumentar uma necessidade exclusivamente minha?
Acredito que ainda atravessarei novos episódios não exatamente parecidos com esse. Mas com situações que exigirão de mim uma postura desprovida de preconceitos comigo mesma assim como o desapego para com as opiniões alheias.
Uma coisa digo com certeza,  cheguei às 17:30 h em São Paulo feliz da vida por estar descansada, por ter adiantado meu vôo e principalmente por ter me desprovido de algum preconceito que por ventura me fizesse ter uma atitude diferente da que tive.
É isso ai.... beijos beijos, até a próxima aventura!










3 comentários:

Marcello Juris disse...

Se vc me permitir deixar o papo sério de cidadania e acessibilidade para depois.

Este seu texto me fez imaginar uma mistura de Bispo Waldoniro Santiago com Vangelis !

É que uma vez estava aqui em casa um colega professor de química da universidade fluminense e na TV passava o programa do bispo waldomiro. Quando o meu amigo, maurício, chamou atenção para que no momento do "milagre" em que a velhinha cadeirante saía correndo pelo palco o sujeito que estava tocando o órgão começou a tocar "carruagens de fogo", música do Vangelis que na década de 80 virou verdadeiro tema das olimpíadas. Então, Maurício percebeu e disse logo: - putz.. o cara do órgão é um tremendo sacana..tocando o tema das olimpíadas!

Então...qdo vc narrou o inusitado final de sua viagem com a cara de tacho da aeromoça, imaginei sentados ao seu lado o bispo Waldomiro e sua senhora, bispa francileia, e vc levantando e saindo correndo do avião saltando sobre as poltronas, sob os aplausos dos pastores milagreiros e o espanto de todos os demais passageiros !

Se vc não recorda a música, aí vai:
http://www.youtube.com/watch?v=03hqHVRSXmg&feature=fvwp&NR=1

disse...

kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk só vc Má. Foi mais ou menos isso mesmo... só faltou uma trilha sonora para impactar ainda mais o inusitado ocorrido.
esse cara do orgao é um tremendo fdp. Dia desses estava na minha mae e uma senhora estava dando o testemunho de q foi curada de uma doença do cachorro. Senhorinha simples, gente humilde. Os cantores la de tras do pastor começaram a rir e a trilha sonora era de um desenho infantil. Achei um descaso. |Ve se pode! Num sei pq ainda me surpreendo!

Denia disse...

A falha foi no embarque , o lindinho que gentilmente, e amigavelmente te empurrava na cadeira de bailarina com os pezinhos dodói deveria ter avisado que foi uma situação de emergência, e que a cadeira provavelmente estaria dispensada no desembarque ... só faltou eles acharem que a cadeira era sua propriedade ... kkkkkkkk ...
Se tivesse Valdomiro lá... ele não perderia a oportunidade de gritar ... MILAGRE !!!

Imaginei todas as cenas.. só o xixi que ficou mesmo para São Paulo ... kkkkkkkkkk

Amei !! bjs