Questão de pele... (minhas tatoos)

25 outubro, 2013

Fé X Aceitação (parte I)

Oi minha gente, saudades do meu cantinho! 
Estou sem computador  e devido a isso tenho entrado pouco na internet.
Dia desses passei aqui pelo blogg para verificar alguns comentarios e mais uma vez tomei a decisão de não aceitar um comentario sobre o post anterior: "Haja Paciência".
A pessoa além de não identificar-se estabeleceu um comentário totalmente inflexivel e raso sobre meu "equivoco" de não mais compreender a importância do evangelismo daquela mulher que encontrei no INSS.
Ao final de ideias prontas e chavões de fé  a pessoa (cristã e anonima) completou: "Se você aceita sua doença... Boa sorte!"
A princípio lamentei por aquele leitor não compreender a ideia intrinseca que vai bem além do fato daquela mulher insistir em falar de Jesus (deixo claro e cristalino que o problema difinitivamente não é esse). O que me faz lamentar é a sensação de se sentir exaurida pela falta de bom senso que toma determinados cidadãos delegando ao invisível todas as culpas e responsabilidades, todos os méritos e desméritos por tudo que acontece nessa vida! Me desculpe, mas não aguento e nem estou disposta a aguentar.
Mas enfim, levei  esse caso para minha sessão semanal de terapia e juntamente com meu psicólogo ´Dr. Rodrigo Martins começamos a refletir sobre FÉ e ACEITAÇÃO.
Insisto em dizer que aceito sim minha doença, que convivo tranquilamente (na medida do possivel) com a EM, e que certamente seria uma esclerótica frustrada se vivesse meus dias na ignorância  de que uma patologia que ate o momento não possui cura sumisse feito magica : PLINNNNNNNN! 
Se isso é sinônimo de fé, me desculpem... minha fé consiste em agradecer aos céus todos os dias, vivendo um dia por vez reconhecendo minha atual condição e vivendo da melhor maneira possivel.
Após suplicar (momento exagero), tenho hoje o prazer de sua ilustre presença rs e  tê-lo aqui em meu blogg, falando sobre o processo de aceitação não só na  Esclerose Multipla, mas de modo geral.
Espero que gostem...
Bja Carpe Diem
-----------------------------------------------------------------------------------------------

Aceitação...ou como o processo do luto pode ser visto diferente

Texto escrito por: Rodrigo Ruis Martins, psicólogo inscrito no CRP 06/107.982.

Olá, sou o Rodrigo, psicólogo, e a pedidos estou escrevendo esse texto sobre a questão da aceitação.
Uma das muitas questões abordadas neste blog é a Esclerose Múltipla (E.M) , e como patologia crônica e ( até o presente momento) incurável deve-se sempre tomar muito cuidado com uma das principais demandas quando se pensa nessa questão: o luto e os problemas de se desenrolar de forma saudável esse momento.
Uma das minhas frases favoritas é de um psicólogo americano chamado A. Beck ( patrono da Terapia Cognitiva):

" Não é uma situação por si só que determina o que as pessoas sentem, mas, antes, o modo como elas interpretam uma situação"
( Aaron T. Beck, 1964)

Vamos entender melhor o que Beck quis dizer com isso:

  • A Esclerose Múltipla ( e qualquer outra patologia) não vai desaparecer só porque você se recusa a falar sobre isso.
  • A Esclerose Múltipla ( e qualquer outra patologia) não vai desaparecer só porque você conta para tudo e todos que é portador.

A situação ( E.M) por si só não determina o nível de sofrimento que você terá que enfrentar. Qual o nível de sofrimento que você terá depende muito mais como você conduz a situação ( e de como você pensa , seus sistemas de crenças e valores ), do que ela por si só.

Ta bom Rodrigo, mas lá no começo você falou de luto. Luto não é só quando morre alguém?
Sim e não. De fato o luto é quando morre algo, mas não precisa ser necessariamente alguém.
Quando deixamos de ser criança e nos tornamos adolescentes enfrentamos o luto da morte do status de criança.
Ao perdermos o emprego, enfrentamos o luto da morte daquele emprego.
Quando alguém recebe o diagnóstico de E.M ele terá que enfrentar um terrível luto. A morte daquele que ele chamava de “eu” para um novo “eu”. Um com E.M. e todas as limitações que isto implica. E pode ser muito complicado.
Um dos meus modelos preferidos é o proposto por Kübler-Ross dividido em 5 estágios :

  1. Negação ( “Eu não tenho E.M., isso foi erro do médico, vou procurar uma 2º,3º,4º opinião” )
  2. Raiva ( “Que merda! Justo comigo? O que fiz de errado! O fulano tal tem uma vida toda errada e isso acontece comigo??”)
  3. Barganha ou Negociação ( “Se eu fizer isso...aquilo vai acontecer”, normalmente de cunho religioso o paciente negocia com Deus a sua melhora, as conhecidas promessas)
  4. Depressão ( “ Já que estou com E.M vou desistir e jogar a toalha “)
  5. Aceitação ( “Bem tenho E.M. e tudo bem, vou conseguir conviver bem com isso” )

Nem todos vão passar pelos 5 estágios ( normalmente 2 ou 3 estágios apenas) e não estão em ordem, porém deve-se lembrar que o objetivo sempre é chegar em estágio de aceitação.
E como chegar a aceitação?
Bem, somos todos únicos e não existe uma formula mágica para isso acontecer, porém não posso deixar de escrever o que eu acho que deveria ser claro para todos: Procure um psicólogo, ele está apto a te ajudar. Ter E.M. é muito complicado e você precisa de toda ajuda profissional.
Ele vai conseguir perceber seus padrões de pensamentos e comportamentos disfuncionais e te ajudará a pensar em alternativas para eles.
Tenho que colocar uma observação que Aceitar a condição de ter E.M. é diferente de desistir e deixar levar. Essa atitude está muito mais ligada ao estágio de Depressão do que aceitação.
Aceitar é entender as limitações e trabalhar para que elas não o atrapalhem em ter uma vida feliz.