Questão de pele... (minhas tatoos)

20 agosto, 2013

Aceita uma bala?

Sempre gostei de ouvir historias. Fossem elas verídicas ou não.
Viajo, mergulho, me entrego aos fatos, detalhes, cenários e personagens. 
Esqueço de tudo a volta qdo ouço uma historia.
Aos 30 anos posso me considerar (com muito orgulho, sim senhor) uma colecionadora de estórias. Das mais diversas, dos mais diferentes gêneros, composta dos mais variados personagens.
Há uns dois finais se semana, num fim de sábado ensolarado estive com minha amiga Talita sentada numa pracinha aqui próximo a minha casa, pra colocarmos o papo em dia e tomarmos um  sorvete. Desses encontros sagrados àqueles que têm o prazer de estar sempre juntos.
Conversa vai, conversa vem (dentre confissões mútuas, dissabores ,  planos futuros e mtas risadas) fomos abordadas por um senhor.
Aparentava mais ou menos uns oitenta e TODOS anos de vida. Se aproximou devagarinho e ofereceu-nos uma bala.
A principio desapercebida devido minha conversa e disposta a recusar tal gentileza ,  voltei meus olhos à simplicidade daquele senhor, e imediatamente arrependidíssma pela "recusa" daquela suposta gentileza, o indaguei sobre o porque dele nos oferecer  aquelas balas?
Aí chega o momento em que os deuses generosamente fazem contadores de vida, de historias cruzarem meu caminho.
Aquele senhor começou a nos explicar que era um voto que ele havia feito consigo mesmo, em gratidão por sua vida.
Sobrevivente da Terceira Guerra Mundial, e com um sotaque italiano que necessitava extrema atenção dos ouvintes, nos contara que certa vez pegou um trem errado  e que ao descer no meio do percurso com seus irmãos, ouviram  o  soar da sirene em alarde aos aviões que bombardeariam aquele local.  Tentara se esconder jogando-se num barranco enquanto seus irmãos ficara do lado de fora. Caíra num buraco e ficou ali por horas  ao perceber que fora o único a sair ileso daquele ataque.
Foi encontrado depois de horas chorando a morte de seus irmãos. Na época ele tinha  nove, dez anos.
Tendo a necessidade de dar continuidade a sua vida, apos a perda precoce de seus pais e ao ataque que ceifou a vida de seus irmãos, foi adotado por uma familia que o fez estudar  e aperfeiçoar-se na arte de talhar moveis em madeira. Trabalhou com um senhor muito rico em Veneza, e veio para o Brasil no período da imigração europeia.

Imagine minha cara após ouvir aquele senhor? Minha satisfação ao decidir aceitar aquela simples "balinha". Poderia ser tudo uma grande invenção, sinceramente a mim não me importaria se de fato fosse tudo uma grande lorota contada num banco de praça.
O que me importa na verdade é o tempo dado àquele senhor. É o sim que decidi dar aquela historia, aquele homem.
Estão ai, os maiores tesouros, os mais singelos presentes que a vida nos traz.
Confesso que me levantei dali mais leve, mais engrandecida. E por que não, mais agradecida aos bons ventos que insistem em trazer até mim pessoas que me contam estórias. Que me acrescentam a alma, que me trazem vida através das suas próprias vidas.

Ahhh, sinceramente meu desejo é que isso nunca cesse em meu caminho. Que a vida me proporcione sábados a tarde assim, despretensiosos, cheios começos, de estorias.
E que eu consiga trazer todas elas à minha vida como inspiração de aprendizagens,novos começos meios, mas nunca de fim...

12 agosto, 2013

Devaneios junguianos ...

Andamos por aí realmente tentando nos encontrar... 
Isso  não é uma mera busca, mas algo que  nos motiva a caminhar, a nos conhecer, a entender mais de nós mesmos e do outro.
O que sou? Como funciono? Quais são as características que me tornam peculiar?

No fundo todos nós queremos saber quem somos de fato.
 Quem não busca a si mesmo não sente-se “pertencer” ao todo, ao cosmo, ao eterno.
 Nesta busca pelo graal da alma, a vida nos leva as mais diversas situações e acasos. Todas estas situações e circunstancias nos ensinam e por vezes somos levados por elas sem nenhuma possibilidade de relutar contra os seu processo, como um barquinho impelido por uma enorme tempestade de ventos. 
Não, isto não é fatalismo, é apenas a consciência que o “todo” é um constante vir a ser, que segue seus ciclos de desenvolvimentos e expansão indissolúveis, independente de nossa força de querer evita-la.

Mas calma, a vida não somente uma coisa sem sentido que não podemos controlar seu fluir, por alguns momentos ela nos faz sentir a energia do seu pulsar em nossas pobres almas. 
São fagulhas apenas, mas podem dar a alma um êxtase de transcendentalidade que nos faz contemplar a beleza ímpar da eternidade, do eterno vir a ser, da morte- vida- morte.

Há aquelas sensações de prazer, de delicias, de  querer viver, arrebatamento para uma esfera onde versam só os corações que se descobrem um ao outro em um leve balancear de uma brisa soprada pelos deuses, e neste grau de desenvolvimento de consciência cósmica é sempre bom ter a companhia de uma boa alma andarilha, que percorre o mesmo caminho, mas com propósitos diferentes e peculiares.

Este “olhar para si mesmo”, para dentro de “si”, contemplando o “outro”, ao mesmo tempo em que também se descobre não no sentido narcisista do termo, mas no sentido de descer para o mais fundo de si mesmo para descobrir o que há dentro deste local   capaz de nos oferecer a possibilidade de  se sentir “viver”, de onde provem uma energia que sempre nos convence que isto é real, que a vida é pra já, é esta consciência da integração entre a nossa existência e da eternidade do universo, do seu ritmo constante de expansão, impossível de impedido, independente de nós, humanos, a vida já tem seu próprio ritmo, ela não depende do humano para seguir seu curso, e de nosso envolvimento com tudo este ritmo, saber a “parte que nos cabe neste latifúndio”.

Em alguns caos de encontros entre estes tais andarilhos, ou passageiros, ou navegantes, destes descobridores de si mesmos,  quando eles  tem um elevado grau de afinidades, de gostos, de repúdios, de filosofias, acontece um explodir de fome de vida, da afirmação da vida.
São estes tais “piscar de luzes” de prazer em se sentir vivo, de se sentir integrado ao todo, que faz a nossa jornada e o nós, andarilhos, nos sentirmos como uma só coisa. Nós somos o caminho. O caminho está em nós mesmos. Mas só podemos nos descobrir através do outro, o “outrem” é nossa referencia para sabermos a nossa localização, se estamos indo pelo caminho certo, é no outro que nós nos vemos. Somos uma bolinha de sabão que existe por um brevíssimo tempo apenas com sua leveza e cores, e que depois estoura e não se pode ser mais aquilo que se foi. “Como uma onda no mar”.

Nós  nunca estamos sozinhos nesta jornada. Nossos propósitos são peculiares e comuns ao mesmo tempo, mas além disto a simples presença de estar juntos é responsável por muitas vezes em nos levar ao estado de se sentir seguro, protegido. 
Estamos  continuamente em um estado de confidencias e descobertas, nada disto é programado, ou linear...
Como a esfinge, a vida cotidianamente nos questiona afirmativamente: “Decifra-me ou te devoro”. 

E ao nos  sentirmos desafiados, aqueles que sabem o prazer dos desafios,  aceitam e doam de si uma força supra humana. Aceitamos muitas das vezes, não só para descobrirmos, mas também para olharmos esses paradigmas desafiando-nos ao nosso eu  a descoberta  do próprio self.
Desconstruir um arquétipo é extremamente difícil, mas coisas boas acontecem quando nos dispomos em revermos conceitos cristalizados.  Aos poucos, talvez, precisamos romper com figuras destrutivas (como as da sereia) pra que comece a nascer a imagem da loba, da mulher selvagem   com toda sua seiva, e  com isso nasça os primeiros raminhos desta enorme e bela arvore que somos em nossa essência.
E assim, através do olhar externo de um ao outro, nós, olharemos cada vez mais para dentro de nós mesmos, e ao descobrir nossa alma, nos remeteremos ao encontro do universo e sua expansão indissolúvel.
Carpe Diem, mas não nos esqueçamos : Nada é pra já ...