Questão de pele... (minhas tatoos)

28 dezembro, 2013

Mais leve do que nunca

Oi genteeeeeee...
Aqui estou pra falar hoje de algo que é tabu pra muita gente. O bom funcionamento intestinal.
Não sei se devido ha inúmeros exames que me submeti  em busca do meu diagnóstico de EM ou se ao fato de ter passado por maus bocados qdo perdi minha filha ainda durante a gestação, confesso que me cauterizei com tabus e pudores sobre quaisquer procedimentos relacionados à saúde.
Me diverti horrores hoje a tarde conversando com minhas amigas e contando como foi um exame na qual me submeti ha mais ou menos duas semanas.
Alguem já ouviu falar de colonoscopia e hidrocólonterapia? Pois bem, por livre e espontânea vontade (contudo sabendo dos beneficios para esclerose múltipla) resolvi, por conta própria realizar tais procedimentos.
Antes de mais nada, pra quem não sabe do que se trata irei explicar:

A hidrocolonterapia baseia-se em práticas milenares de limpeza intestinal (feita com água morna, purificada e ozonizada). Amplamente indicada por médicos do mundo todo, como tratamento auxiliar para o bem-estar físico mental, cura de diversas doenças, trazendo vários benefícios, dentre eles o rejuvenescimento.
O processo de evacuação intestinal está relacionado com várias funções do organismo, dentre elas a função respiratória, circulatória e a atividade cerebral, inter-relacionadas através do sistema nervoso periférico (nervos). Sua desregulação, afeta vários sistemas com os quais se relacionam.
Experimentamos uma boa saúde e bem estar quando o cólon esta limpo e funcionando perfeitamente.
Sua necessidade resulta no fato de que, a maioria das pessoas não possui a função intestinal em perfeitas condições, contribuindo para uma composição alterada de bactérias intestinais, isto é Disbióse, resultando em processos digestivos deficientes com formação de substancias tóxicas e resíduos, que provocam um auto-envenenamento do corpo (auto-intoxicação). As conseqüências imediatas deste processo se revelam na perda de vitalidade, cansaço, depressões, falta de concentração, agressividade e estados de ansiedade, que em longo prazo serão o motivo de várias doenças.
Recentes estudos científicos proclamam o intestino como o “segundo cérebro” (cérebro emocional). Além de atuar como um órgão inteligente, selecionando, entre o que comemos e que é útil para o organismo, o intestino é responsável pela produção de substâncias químicas fundamentais para o bom funcionamento da mente e do corpo.



A colonoscopia é o exame endoscópico do intestino grosso. É realizado principalmente para detecção de pólipos (tumores benignos), que podem sofrer transformação para malignidade. O exame também detecta cânceres iniciais e faz o diagnóstico de Cancro (tumor) avançado. É utilizado também para o diagnóstico de doença inflamatória intestinal e outras patologias. Além da avaliação da mucosa intestinal e do calibre do órgão, permite a realização de coleta de material para exame histopatológico (biópsia) e a realização de procedimentos como a retirada de pólipos (polipectomia), descompressão de volvo intestinal e a hemostasiade lesões sangrantes.

A colonoscopia virtual, também denominada colonografia é um exame que utiliza reconstrução em terceira dimensão de imagens obtidas através de tomografia computadorizada, é um exame não-invasivo destinado à avaliação da mucosa do cólon. Tem a vantagem de ser menos incômoda que o exame endoscópico, porém também requer preparo (a limpeza do cólon), e estudos sugerem que seja menos eficaz para a detecção de pequenas lesões, e não permite a realização de coleta de biópsias. É consideravelmente mais caro e pouco disponível.

Pois bem, estava um tanto ansiosa para o exame. Depois de uma preparação rigorosa realizada em casa, me internei as seis da manhã acreditando que seria algo rápido e não tão sofrido.
Ahhh , ledo engano. Após subir ao meu apartamento, confortabilissimo, tive que tomar num período de meia hora um litro de uma limonada açucarada que me fez sentir enjoos, e me causou mtos vômitos.
Como ja havia pesquisado sobre o procedimento, estava ciente que seria acoplado uma válvula, que irrigaria o intestino com um soro glicerinado. Na teoria tudo estava muito bem, obrigada.
O desconforto e o enjôo eram apenas o começo de uma longa sessão de higiene intestinal, espiritual e intelectual kkkk. Como ja havia realizado um procedimento severo em casa a base de laxantes, coca-cola, gatoraide e miojo, pensei que tudo na clínica seria muito mais simples.
 Das seis e meia da manha, quando cheguei ao hospital, fiquei até as 11 horas  para a limpeza. Enquanto o liquido da lavagem não saiu branquinho e cristalino não pude realizar a outra etapa, a colonoscopia.
Ao fim da tarde a equipe laboratorial, atrasadissima, chegou à clinica para o procedimento.
Fui anestesiada e submetida a colono. Não vi absolutamente nada,   quando acordei o exame ja havia sido realizado.
Em repouso devido a anestesia, recebi alta e saí do hospital às sete e pouco da noite. Exausta e abatida fisicamente, no entanto, feliz da vida com minhas tripas limpinhas limpinhas. rs

O que eu quero deixar aqui registrado,é a importancia de não  termos preconceito para com exames que mtos de nós consideramos vexatórios. Precisamos encarar algumas coisas como prevenção e com uma bela pitada de humor.
Digo e repito, que só atraves do conhecimento e da ruptura com preconceitos, podemos obter uma boa qualidade de vida, principalmente no caso de pacientes que possuem alguma patologia que ainda não possui cura, pois "vira e mexe" um exame novinho em folha nos é proposto.
Como ja disse, eu desejava realizar esse procedimento por  acreditar que possuímos uma memória não só intelectual, emocional e espiritual, como tambem acredito que possuímos uma memória visceral, que numa limpeza profunda como essa (próximo ao término do ano e inicio de um novo ciclo, o novo ano) contribui energeticamente para um beneficio global do indivíduo.
Quer seja por filosofia ou por necessidade física, a disposição para o novo sempre irá nos favorecer. Acredite!
Bjosss (de quem se sente leve... leve... kkk)
Carpe Diem

27 novembro, 2013

Quem não se inquieta diante de um ser livre? Quem?

Oi gente... ontem a noite ouvi esse texto no youtube e decidi compartilhar aqui no meu espaço. Me vi em cada linha, em cada verso, em cada pausa respirada  da voz desse homem durante sua narração.  Consigo ver nessas palavras uma linha temporal do meu processo evolutivo de fé, de crença, de consciencia!
Quem tiver interesse, vale mto a pena lê-lo (se prefirir ouça o audio), quem não se sentir a vontade, desconsidere-o. Afinal, a liberdade, pega bem pra todos, mas só alguns a desejam profundamente! 
Bjs Carpe Diem...



Deus? Desacredite


Acreditar que Deus existe é um pequeno e tímido movimento da consciência. Acreditar em Deus é comprar o pacote cultural/religioso/ocidental sem discussão, sem questionar, sem enxergar. Nesse ponto os agnósticos estão um passo a frente.
É bem mais fácil acreditar em Deus do que desacreditar. No entanto, quem está disposto a se expor às implicações de identificá-lo dentro de si mesmo? Nem sempre é tranquilo reconhecer-se como morada de Deus, parte dele, nele, desvinculando sua percepção da necessidade de olhar para fora.
Isso porque a primeira é corroborada pelo senso comum, pela nossa cultura, pela maioria que elegeu aquela figura de barba, feito a nossa imagem e desconfortável semelhança e, nele, pregou uma placa escrito “esse é deus. acredite ou vá para o inferno”. “Pega bem” acreditar em Deus. “Pega mal” desacreditar. É como se todos fossem obrigados a crer do mesmo jeito, afinal, fomos moldados culturalmente para simplesmente acreditar, sem refletir, sem discutir, sem duvidar, sem respeitar espaços, sem dar atenção aos vazios. É bem mais fácil controlar pessoas, movê-las a viver em dogmas, segregando, separando, guerreando quando, sem argumentos, eu digo “é porque deus quer”, “é porque deus me disse”.
Interiorizá-lo é o inicio uma viagem solitária e de muitas desconstruções. É diferente de “acreditar”. Eu posso ou não acreditar no que me dizem, mas quando a crença vira experiência você se enxerga diante de questionamentos até ontem inquestionáveis, percebe-se relativizando o que parecia absoluto, duvidando do que dizem estar fora de discussões, invertendo vertiginosamente a lógica do que antes acreditava, deslocando o olhar das pirotecnias que insistem em dizer “Ele está lá”, diante da inevitável constatação de que “Ele vive aqui”. Isso produz uma profunda e radical inversão de percepção de tudo, caotizando um mundo até então construído a base de crenças, não de consciência.
É colocar-se no contra fluxo, desprender-se da maioria, desvinculando-se de culturas, desfazendo-se de tradições, livrando-se de sistematizações que se esforçam para encaixotar o que não cabe em cartilhas, para apreender o que não lhes pertence, em ser voz do que não cabe em uma única voz, de ser donos do que está em mim, em você, em cada um de nós. Acredite: Isso nunca é fácil. Dói na grande maioria das vezes.
É sentir-se herege por um tempo, temer a própria loucura, achar que se contaminou, desviou, desagregou enquanto seus pares se apressam em julgar-lhe, em dizer ” sei o que está por trás do que você diz” e se distanciam, se afastam, afinal, você se tornou perigoso. Sim, você se torna uma real e potente ameaça! Crucifica ! – gritariam se pudessem.
É muitas vezes ir contra as tradições da família, dos amigos, do cônjuge, dos grupos, afinal, estamos falando de um caminho de descobertas, de quebra de paradigmas, de profunda e radical mudança de percepção, com todas as implicações que isso acarreta. Acreditar em Deus é uma coisa, desvincula-lo do símbolo, dos dogmas, do nome “d-e-u-s”, das fórmulas, das pré concepções, dos pré conceitos, dos limites, das descrições, dos códigos, das caixas, das propriedades e simplesmente enxergá-lo em si mesmo, dissolvendo-se nele, produtor de mistério, essência do ser, fonte de sabedoria e pacificação é outra completamente diferente, especialmente porque, diferente dos sistemas, enxergar Deus na gente nos torna livres, independentes e não sequestráveis por ameaças. Quem não se inquieta diante de um ser livre? Quem?
Portanto desacreditar de “Deus”, esse dos códigos, torna-se necessário. Afinal, o que fazer quando percebeu que os passos, a voz, os movimentos sutis, mas constantes, suaves, eloquentes de Deus não vinham de lá, não estava fora, não se vinculava ao que aprendeu, mas vinha de dentro de você? Como voltar atrás depois que reconheceu-se parte de Deus, não Deus fora, não Deus lá, não Deus deles, não Deus nosso, mas Deus meu, em mim, aqui?
Nossas mentes podem fazer várias viagens, há muitas e muitas reflexões a serem feitas, processos a serem desenvolvidos, caminhos inimagináveis a serem trilhados, no entanto, acredito ser essa percepção o ponto de partida, a linha de chegada, o começo, o meio e o fim de todo entendimento, de tudo o que realmente faz diferença.

25 outubro, 2013

Fé X Aceitação (parte I)

Oi minha gente, saudades do meu cantinho! 
Estou sem computador  e devido a isso tenho entrado pouco na internet.
Dia desses passei aqui pelo blogg para verificar alguns comentarios e mais uma vez tomei a decisão de não aceitar um comentario sobre o post anterior: "Haja Paciência".
A pessoa além de não identificar-se estabeleceu um comentário totalmente inflexivel e raso sobre meu "equivoco" de não mais compreender a importância do evangelismo daquela mulher que encontrei no INSS.
Ao final de ideias prontas e chavões de fé  a pessoa (cristã e anonima) completou: "Se você aceita sua doença... Boa sorte!"
A princípio lamentei por aquele leitor não compreender a ideia intrinseca que vai bem além do fato daquela mulher insistir em falar de Jesus (deixo claro e cristalino que o problema difinitivamente não é esse). O que me faz lamentar é a sensação de se sentir exaurida pela falta de bom senso que toma determinados cidadãos delegando ao invisível todas as culpas e responsabilidades, todos os méritos e desméritos por tudo que acontece nessa vida! Me desculpe, mas não aguento e nem estou disposta a aguentar.
Mas enfim, levei  esse caso para minha sessão semanal de terapia e juntamente com meu psicólogo ´Dr. Rodrigo Martins começamos a refletir sobre FÉ e ACEITAÇÃO.
Insisto em dizer que aceito sim minha doença, que convivo tranquilamente (na medida do possivel) com a EM, e que certamente seria uma esclerótica frustrada se vivesse meus dias na ignorância  de que uma patologia que ate o momento não possui cura sumisse feito magica : PLINNNNNNNN! 
Se isso é sinônimo de fé, me desculpem... minha fé consiste em agradecer aos céus todos os dias, vivendo um dia por vez reconhecendo minha atual condição e vivendo da melhor maneira possivel.
Após suplicar (momento exagero), tenho hoje o prazer de sua ilustre presença rs e  tê-lo aqui em meu blogg, falando sobre o processo de aceitação não só na  Esclerose Multipla, mas de modo geral.
Espero que gostem...
Bja Carpe Diem
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Aceitação...ou como o processo do luto pode ser visto diferente

Texto escrito por: Rodrigo Ruis Martins, psicólogo inscrito no CRP 06/107.982.

Olá, sou o Rodrigo, psicólogo, e a pedidos estou escrevendo esse texto sobre a questão da aceitação.
Uma das muitas questões abordadas neste blog é a Esclerose Múltipla (E.M) , e como patologia crônica e ( até o presente momento) incurável deve-se sempre tomar muito cuidado com uma das principais demandas quando se pensa nessa questão: o luto e os problemas de se desenrolar de forma saudável esse momento.
Uma das minhas frases favoritas é de um psicólogo americano chamado A. Beck ( patrono da Terapia Cognitiva):

" Não é uma situação por si só que determina o que as pessoas sentem, mas, antes, o modo como elas interpretam uma situação"
( Aaron T. Beck, 1964)

Vamos entender melhor o que Beck quis dizer com isso:

  • A Esclerose Múltipla ( e qualquer outra patologia) não vai desaparecer só porque você se recusa a falar sobre isso.
  • A Esclerose Múltipla ( e qualquer outra patologia) não vai desaparecer só porque você conta para tudo e todos que é portador.

A situação ( E.M) por si só não determina o nível de sofrimento que você terá que enfrentar. Qual o nível de sofrimento que você terá depende muito mais como você conduz a situação ( e de como você pensa , seus sistemas de crenças e valores ), do que ela por si só.

Ta bom Rodrigo, mas lá no começo você falou de luto. Luto não é só quando morre alguém?
Sim e não. De fato o luto é quando morre algo, mas não precisa ser necessariamente alguém.
Quando deixamos de ser criança e nos tornamos adolescentes enfrentamos o luto da morte do status de criança.
Ao perdermos o emprego, enfrentamos o luto da morte daquele emprego.
Quando alguém recebe o diagnóstico de E.M ele terá que enfrentar um terrível luto. A morte daquele que ele chamava de “eu” para um novo “eu”. Um com E.M. e todas as limitações que isto implica. E pode ser muito complicado.
Um dos meus modelos preferidos é o proposto por Kübler-Ross dividido em 5 estágios :

  1. Negação ( “Eu não tenho E.M., isso foi erro do médico, vou procurar uma 2º,3º,4º opinião” )
  2. Raiva ( “Que merda! Justo comigo? O que fiz de errado! O fulano tal tem uma vida toda errada e isso acontece comigo??”)
  3. Barganha ou Negociação ( “Se eu fizer isso...aquilo vai acontecer”, normalmente de cunho religioso o paciente negocia com Deus a sua melhora, as conhecidas promessas)
  4. Depressão ( “ Já que estou com E.M vou desistir e jogar a toalha “)
  5. Aceitação ( “Bem tenho E.M. e tudo bem, vou conseguir conviver bem com isso” )

Nem todos vão passar pelos 5 estágios ( normalmente 2 ou 3 estágios apenas) e não estão em ordem, porém deve-se lembrar que o objetivo sempre é chegar em estágio de aceitação.
E como chegar a aceitação?
Bem, somos todos únicos e não existe uma formula mágica para isso acontecer, porém não posso deixar de escrever o que eu acho que deveria ser claro para todos: Procure um psicólogo, ele está apto a te ajudar. Ter E.M. é muito complicado e você precisa de toda ajuda profissional.
Ele vai conseguir perceber seus padrões de pensamentos e comportamentos disfuncionais e te ajudará a pensar em alternativas para eles.
Tenho que colocar uma observação que Aceitar a condição de ter E.M. é diferente de desistir e deixar levar. Essa atitude está muito mais ligada ao estágio de Depressão do que aceitação.
Aceitar é entender as limitações e trabalhar para que elas não o atrapalhem em ter uma vida feliz.





25 setembro, 2013

Minha Santa Paciência

Bem, depois de alguns dias sem aparecer por aqui, venho hoje falar sobre tolerância.  Pois é, me refiro a tolerância no sentido extremo de paciência.
Tenho pensado nas caracteristicas que diferem e complementam uma palavra à outra depois de um ocorrido que me sobreveio dia desses.

 Vamos ao significado especifico e resumido de cada uma:

pa.ci.ên.cia 

Do latim patientia,  Virtude de quem suporta males e incômodos sem queixumes nem revolta. Qualidade de quem espera com calma o que tarda (...) Paciência de Jó: grande paciência, como a desse patriarca bíblico.


to.le.rân.cia 

Do latim tolerantia, Qualidade de tolerante. Ato ou efeito de tolerar, de admitir, de aquiescer. Direito que se reconhece aos outros de terem opiniões diferentes ou até diametralmente opostas às nossas.  Boa disposição dos que ouvem com paciência opiniões opostas às suas. (...) T. religiosa: atitude governamental em que se concede plena liberdade de culto. T. teológica:condescendência em consentir todas as opiniões que não são abertamente contrárias à doutrina da Igreja.



Pois bem, sentiram que de acordo com as definições apresentadas acima o ato de tolerar exige de nós alem das caracteristicas de ser paciente um "que" a mais?
Pois foi esse "que a mais" que por pouco me fez perder completamente a paciencia dia desses!

Tudo começou qdo solicitei uma nova data para realizar uma nova perícia  para auxilio doença no INSS.
Marquei a data atraves do telefone 135, e me dei conta que o dia agendado antecedia o dia que iria até meu medico pegar meu laudo.
Liguei novamente no mesmo numero e fui informada que nao poderia remarcar a data por telefone. Que deveria comparecer pessoalmente à agencia do INSS e lá então me justificar o porque do meu não comparecimento para o dia agendado por telefone.
Burocracia pouca, é bobagem!!!
Lá fui eu. Naquela semana estava péssima com uma infecção alérgica que me fazia tossir 15 vezes a cada dois minutos! rs
Logo que cheguei, tive a ilusão que chegaria até o guichê de atendimento e logo seria atendida, afinal era apenas me justificar e reagendar uma nova data.
Ahhh quanto engano!
Entrei na primeira fila. Recebi uma senha. Não havia local para me sentar. La se foram uns  15 minutos em pé. Fui atendida. Recebi uma segunda senha. Em meio a multidão avistei duas cadeiras vagas. Rapidamente minha mãe e eu nos assentamos. Olho no relógio, 15:30h. Olho minha senha, P0103. Olho para o painel P0071. 
Ainda bem que havia uma cadeira vazia. Pensei...

Não havia dado nem três minutos que eu  tinha me assentado, uma senhora "simpaticissima" me questionou ao ver minha muleta: 

-Acidente ?
- Foi! - respondo.
-De carro? 
-Não. De medula! Explico. (medula sempre parece algo mais grave e ao mesmo tempo mais simples de explicar). Tem dias que não estou afim de contar toda minha historia. Tenho esse direito!

Com o olhar apenas para o painel eletrônico, demonstrando não estar aberta para nenhum tipo de diálogo ouço:

- Você é bonita!
- Obrigada! (Sou medida dos pés a cabeça.)
- Seu anel é de brilhantes?
- Não.  É falso, comprei no Paraguay!
- Você é mesmo muito bonita!
- Não é sempre! ( Tento alertar que minha beleza estava prestes a chegar ao fim! rs)

Como se o diálogo estivesse fluindo e eu a pessoa mais receptiva naquele momento, sinto meu braço sendo tocado seguido da seguinte frase:

-Jesus pode te curar!
Tive q olha-la nos olhos e dizer, EU CREIO! (Dando um basta naquela conversa).
- Sabe, Deus me deu o poder de cura. Meu pai tinha cancêr e Deus me usou para curá-lo. Minha vizinha sofria de vitiligo, tambem orei por ela e como num milagre foi curada!

Claro que euzinha não poderia me deter. Estava diante de uma santa! E isso muito me interessava! 
Só não entendia o porque, que aquele poço de virtude estava ali como eu, a espera de um parecer de um médico perito.
A questionei sobre a providência do seu laudo, e minha surpresa não foi grande qdo ela prontamente me mostrou sua lista de especialidades médicas que garantiam sua incapacidade fisica e psicologica para o trabalho.
 Dentre ortopedistas, cardiovasculares, neurologistas, psicólogos e psiquiatras, eu passei a me interessar menos ainda pelos "milagres" realizados por aquela mulher.

- Você precisa ir à igreja!
- Não obrigada!
- Você precisa de um encontro com Jesus!
- Já tive varios!
- É mesmo? E como foi? Indagou ela.
- Foram tantos encontros que acabei desencontrando!
-Mas porque você nao vai ao  RR Soares ?
- Cruzes! Respondi.
- E o Apóstolo Valdemiro?
- Deus que me livre! Concluí.
-Me diga uma coisa minha senhora? Porque Deus nao te curou ou não te aposentou  ainda? Assim a senhora não precisaria estar aqui. Passar por isso!

Ufa, estabeleceu-se um silêncio.
Volto meu olhar para o painel eletronico. Minha mãe me olha com aquela cara de que me conhece e que se sente um pouco preocupada por eu estar munida com uma muleta cor de rosa aparentemente inofensiva.
Mas eis que de repente um aparelho de celular se acopla ao meu ouvido numa altura estridente com a voz de um pregador aos berros que faz com que Deus o ouça a força, pela altura e pela distancia da terra ao céu.

Eu mereço! Sim eu mereço! Ja estive do outro lado e mesmo nao agindo dessa forma, era continuamente orientada a falar do amor de Deus em tempo e fora de tempo como ordena as escrituras independente de quem atravessasse o meu caminho.
Certamente o susto que levei com aquele radinho as alturas, me fez pular uns dez centímentros da cadeira, além de me deixar com um zumbido no ouvido o resto da tarde.

Olhei novamente àquela senhora e pedi que me respeitasse, que não estava disposta em ouvir pregação nenhuma naquele momento. Que a individualidade das pessoas mereciam ser respeitadas.
Logo ela tirou o celular com o radinho de perto dos meus ouvidos e colocou uma musiquinha baixinha de uma cantora gospel que aos berros e um fôlego incrivel cantarolava sobre os anjos e demonios certa da vitoria numa vida fora da terra.

Longe da minha senha ser chamada, comecei a refletir sobre o papel daquela mulher. A incoêrencia que sem ao menos se dar conta ela estava ali se submetendo.
A muleta quem segurava era eu, mas a que ela carregava era invisível e pesada, ao ponto de fazê-la expor-se ao ridículo e a inconveniência. Pois todos a olhavam e riam dela.

Seu silêncio, não durou muito tempo. Me explicou que fazia parte de uma igreja em células, e que era seu dever saquear o inferno e povoar o céu.
Milagrosamente meu coração se encheu de compaixão daquela mulher. Pois também vivera as orientações que estavam sobre ela. Também tentei povoar o céu. (Não matei ninguem, faço-me clara! Ao menos não fisicamente!)
Mesmo não agindo com inconveniência, e sempre respeitando o espaço alheio. Sempre que tinha oportunidades falava do amor de Deus (como até hoje falo) mas sem a escravidão de uma tarefa que necessariamente tenho que cumprir. Que me delegaram.
Só sei que minha tolerancia se transformou em compaixão. Estava ali, diante dos meus olhos, uma das muitas pessoas que em sua simplicidade se expõem por amor, por ordem, por religiosidade, fanatismo, compromisso, falta de conhecimento ou sei lá eu por qual motivo.
Passei a dar a atenção para aquela mulher para outros assuntos não relacionados à igreja. Me contou do primeiro casamento. De suas perdas, das suas frustraçoes, da sua saúde, de onde havia almoçado aquele dia e do prazer de gastar vinte e poucos reais num restaurante por kilo.
 A simplicidade de confessar que não é sempre que tem a oportunidade de comer bem e que se pudesse comeria muito mais, me fez sorrir com tamanha sinceridade  ao ponto de esquecer-me do zumbido no ouvido causado pelo pastor berrando.
Graças aos céus, minha senha foi chamada. E aquela mulher não pode concluir a historia de que sua filha de 12 anos havia desmaiado de fome na escola naquela semana. Tinha quebrado os dois dentes da frente. Mas que infelizmente não poderia leva-la ao dentista, pois ela era uma pessoa muito fiel a Deus. Negociava qualquer coisa, menos o dizimo da igreja. 
E terminou: Deus me ajuda,  não sou como muitos, que gastam o salaário todo do mês na farmacia!
Apenas respondi:  Que legal! Graças a Deus essa também não é minha realidade!
E fui embora rumo ao meu guichê, apenas ouvi de longe e baixinho:  
Como assim? Que legal minha filha quebrar os dentes...

















20 agosto, 2013

Aceita uma bala?

Sempre gostei de ouvir historias. Fossem elas verídicas ou não.
Viajo, mergulho, me entrego aos fatos, detalhes, cenários e personagens. 
Esqueço de tudo a volta qdo ouço uma historia.
Aos 30 anos posso me considerar (com muito orgulho, sim senhor) uma colecionadora de estórias. Das mais diversas, dos mais diferentes gêneros, composta dos mais variados personagens.
Há uns dois finais se semana, num fim de sábado ensolarado estive com minha amiga Talita sentada numa pracinha aqui próximo a minha casa, pra colocarmos o papo em dia e tomarmos um  sorvete. Desses encontros sagrados àqueles que têm o prazer de estar sempre juntos.
Conversa vai, conversa vem (dentre confissões mútuas, dissabores ,  planos futuros e mtas risadas) fomos abordadas por um senhor.
Aparentava mais ou menos uns oitenta e TODOS anos de vida. Se aproximou devagarinho e ofereceu-nos uma bala.
A principio desapercebida devido minha conversa e disposta a recusar tal gentileza ,  voltei meus olhos à simplicidade daquele senhor, e imediatamente arrependidíssma pela "recusa" daquela suposta gentileza, o indaguei sobre o porque dele nos oferecer  aquelas balas?
Aí chega o momento em que os deuses generosamente fazem contadores de vida, de historias cruzarem meu caminho.
Aquele senhor começou a nos explicar que era um voto que ele havia feito consigo mesmo, em gratidão por sua vida.
Sobrevivente da Terceira Guerra Mundial, e com um sotaque italiano que necessitava extrema atenção dos ouvintes, nos contara que certa vez pegou um trem errado  e que ao descer no meio do percurso com seus irmãos, ouviram  o  soar da sirene em alarde aos aviões que bombardeariam aquele local.  Tentara se esconder jogando-se num barranco enquanto seus irmãos ficara do lado de fora. Caíra num buraco e ficou ali por horas  ao perceber que fora o único a sair ileso daquele ataque.
Foi encontrado depois de horas chorando a morte de seus irmãos. Na época ele tinha  nove, dez anos.
Tendo a necessidade de dar continuidade a sua vida, apos a perda precoce de seus pais e ao ataque que ceifou a vida de seus irmãos, foi adotado por uma familia que o fez estudar  e aperfeiçoar-se na arte de talhar moveis em madeira. Trabalhou com um senhor muito rico em Veneza, e veio para o Brasil no período da imigração europeia.

Imagine minha cara após ouvir aquele senhor? Minha satisfação ao decidir aceitar aquela simples "balinha". Poderia ser tudo uma grande invenção, sinceramente a mim não me importaria se de fato fosse tudo uma grande lorota contada num banco de praça.
O que me importa na verdade é o tempo dado àquele senhor. É o sim que decidi dar aquela historia, aquele homem.
Estão ai, os maiores tesouros, os mais singelos presentes que a vida nos traz.
Confesso que me levantei dali mais leve, mais engrandecida. E por que não, mais agradecida aos bons ventos que insistem em trazer até mim pessoas que me contam estórias. Que me acrescentam a alma, que me trazem vida através das suas próprias vidas.

Ahhh, sinceramente meu desejo é que isso nunca cesse em meu caminho. Que a vida me proporcione sábados a tarde assim, despretensiosos, cheios começos, de estorias.
E que eu consiga trazer todas elas à minha vida como inspiração de aprendizagens,novos começos meios, mas nunca de fim...

12 agosto, 2013

Devaneios junguianos ...

Andamos por aí realmente tentando nos encontrar... 
Isso  não é uma mera busca, mas algo que  nos motiva a caminhar, a nos conhecer, a entender mais de nós mesmos e do outro.
O que sou? Como funciono? Quais são as características que me tornam peculiar?

No fundo todos nós queremos saber quem somos de fato.
 Quem não busca a si mesmo não sente-se “pertencer” ao todo, ao cosmo, ao eterno.
 Nesta busca pelo graal da alma, a vida nos leva as mais diversas situações e acasos. Todas estas situações e circunstancias nos ensinam e por vezes somos levados por elas sem nenhuma possibilidade de relutar contra os seu processo, como um barquinho impelido por uma enorme tempestade de ventos. 
Não, isto não é fatalismo, é apenas a consciência que o “todo” é um constante vir a ser, que segue seus ciclos de desenvolvimentos e expansão indissolúveis, independente de nossa força de querer evita-la.

Mas calma, a vida não somente uma coisa sem sentido que não podemos controlar seu fluir, por alguns momentos ela nos faz sentir a energia do seu pulsar em nossas pobres almas. 
São fagulhas apenas, mas podem dar a alma um êxtase de transcendentalidade que nos faz contemplar a beleza ímpar da eternidade, do eterno vir a ser, da morte- vida- morte.

Há aquelas sensações de prazer, de delicias, de  querer viver, arrebatamento para uma esfera onde versam só os corações que se descobrem um ao outro em um leve balancear de uma brisa soprada pelos deuses, e neste grau de desenvolvimento de consciência cósmica é sempre bom ter a companhia de uma boa alma andarilha, que percorre o mesmo caminho, mas com propósitos diferentes e peculiares.

Este “olhar para si mesmo”, para dentro de “si”, contemplando o “outro”, ao mesmo tempo em que também se descobre não no sentido narcisista do termo, mas no sentido de descer para o mais fundo de si mesmo para descobrir o que há dentro deste local   capaz de nos oferecer a possibilidade de  se sentir “viver”, de onde provem uma energia que sempre nos convence que isto é real, que a vida é pra já, é esta consciência da integração entre a nossa existência e da eternidade do universo, do seu ritmo constante de expansão, impossível de impedido, independente de nós, humanos, a vida já tem seu próprio ritmo, ela não depende do humano para seguir seu curso, e de nosso envolvimento com tudo este ritmo, saber a “parte que nos cabe neste latifúndio”.

Em alguns caos de encontros entre estes tais andarilhos, ou passageiros, ou navegantes, destes descobridores de si mesmos,  quando eles  tem um elevado grau de afinidades, de gostos, de repúdios, de filosofias, acontece um explodir de fome de vida, da afirmação da vida.
São estes tais “piscar de luzes” de prazer em se sentir vivo, de se sentir integrado ao todo, que faz a nossa jornada e o nós, andarilhos, nos sentirmos como uma só coisa. Nós somos o caminho. O caminho está em nós mesmos. Mas só podemos nos descobrir através do outro, o “outrem” é nossa referencia para sabermos a nossa localização, se estamos indo pelo caminho certo, é no outro que nós nos vemos. Somos uma bolinha de sabão que existe por um brevíssimo tempo apenas com sua leveza e cores, e que depois estoura e não se pode ser mais aquilo que se foi. “Como uma onda no mar”.

Nós  nunca estamos sozinhos nesta jornada. Nossos propósitos são peculiares e comuns ao mesmo tempo, mas além disto a simples presença de estar juntos é responsável por muitas vezes em nos levar ao estado de se sentir seguro, protegido. 
Estamos  continuamente em um estado de confidencias e descobertas, nada disto é programado, ou linear...
Como a esfinge, a vida cotidianamente nos questiona afirmativamente: “Decifra-me ou te devoro”. 

E ao nos  sentirmos desafiados, aqueles que sabem o prazer dos desafios,  aceitam e doam de si uma força supra humana. Aceitamos muitas das vezes, não só para descobrirmos, mas também para olharmos esses paradigmas desafiando-nos ao nosso eu  a descoberta  do próprio self.
Desconstruir um arquétipo é extremamente difícil, mas coisas boas acontecem quando nos dispomos em revermos conceitos cristalizados.  Aos poucos, talvez, precisamos romper com figuras destrutivas (como as da sereia) pra que comece a nascer a imagem da loba, da mulher selvagem   com toda sua seiva, e  com isso nasça os primeiros raminhos desta enorme e bela arvore que somos em nossa essência.
E assim, através do olhar externo de um ao outro, nós, olharemos cada vez mais para dentro de nós mesmos, e ao descobrir nossa alma, nos remeteremos ao encontro do universo e sua expansão indissolúvel.
Carpe Diem, mas não nos esqueçamos : Nada é pra já ...




27 julho, 2013

E com vocês, vossa santidade O PAPA

Ontem pela manhã, dia 26 de julho,  me permiti sentar diante da televisão para acompanhar algumas notícias sobre a visita do Papa ao Brasil.
Sem duvidas minha primeira impressão foi a seguinte: "Estou diante de um franciscano, inovador, ousado e do bem". 
Eu particularmente admiro mto o ministerio dos franciscanos, acho de tamanha nobreza o q pregam,  como vivem e suas obras diarias. Aliás São Francisco de Assis, é um dos santos católicos por quem tenho grande simpatia.
Dentre tantos discursos que fez até o momento, Francisco incentivou os jovens a “não desanimarem” diante da corrupção, “pessoas que, em vez de buscar o bem comum, procuram o seu próprio benefício” mencionou as vítimas de violência. Se compadeceu dizendo que “Jesus se une ao silêncio das vítimas da violência, que já não podem clamar, sobretudo os inocentes e indefesos”. Lembrou "das famílias que passam por dificuldades, que choram a perda de seus filhos, ou que sofrem vendo-os presas de paraísos artificiais como a droga."
O papa  também fez questão de se encontrar com oito jovens infratores no Palácio São Francisco, na sede da Arquidiocese do Rio de Janeiro. Ele recebeu uma cruz de presente, com a inscrição “Candelária Nunca Mais”, em referência ao massacre da Igreja da Candelária, que completou 20 anos na semana passada.
Segundo o porta-voz do Vaticano, o pontífice ficou “emocionado” com a lembrança da chacina de oito crianças que dormiam em torno da igreja, e comentou: "Candelária, nunca mais. Violência, nunca mais, só amor". Depois, ele orou com os menores, antes de se dirigir ao balcão principal do palácio e rezar o Angelus Domini diante de 5 mil fiéis, quando destacou a importância da família.
Ufa, e a programação da vossa santidade não pára por ai. Aos 76 anos, ele apresenta disposição e simpatia por onde passa, e como ficará no Brasil até domingo, certamente haverá mais por ai.
Mas eu quero citar algo que me emocionou e ao mesmo tempo me fez refletir sobre a fé.   Enquanto Francisco passava por seu trajeto ate a Sede da Arquidiocese do Rio de Janeiro, crianças eram levadas até ele para serem abençoadas. Nesse percurso um garotinho, tomado por extrema emoção o abraçou e chorou.  Chorou copiosamente, e eu tb chorei!!!
Chorei num misto de fé e lamento. Chorei por perceber a carencia daquelas pessoas pela presença de algo que reporte a bondade, a benção ao divino. O que faz aquela multidão correr atras de um lider religioso (um chefe de Estado) que por mais bondade que reporte, é um ser humano como cada um de nós?
Fiquei refletindo sobre minha trajetoria de fé. Os maiores erros e maiores arrependimentos que tenho na minha vida, advém justamente  pelo "seguir" pessoas que se reportaram a figura de Deus.
Ahhh como somos carentes...
Como nossa fé é bela e burra ao mesmo tempo...
Como somos levados por ventos de doutrinas tão perigosos e manipuláveis...
Sou uma das muitas pessoas que admiram a postura do papa Francisco. Sou uma das muitas que têm se surpreendido por sua simpatia e simplicidade. Mas a quem de fato esse homem representa?
A que historia a igreja que ele ovaciona pertence?
Emboras seus discusos sejam atentamente ouvidos pelo amor e humildade que o mesmo apregoa, Francisco ja deixou claro seus posicionamentos (que são os posicionamentos da igreja) sobre a homossexualidade, o aborto dentre outros assuntos que sabíamos que nao seria diferente. Não nos enganemos, não sejamos superficiais e ingenuos com relação a bondade demonstrada. 
Somos aquilo que acreditamos, que professamos e que abraçamos como historia.
Ao ver aquela criança chorando, lamentei atraves da emoção ingenua, as muitas "fés" que continuam a perecer por tamanha ingenuidade e ignorancia.
Faço-me semelhante aos bons que com cordialismos dizem: Ai filhinhos... (mas prossigo em meus conselhos) ... não vos iludam, a fé só é boa qdo nao toma demasiadamente o senso crítico de uma pessoa. Ela traz vida, mas também pode trazer a morte. Morte do intelecto, do senso de justiça, da igualdade e porque não da fraternidade!
Carpe diem, ou melhor, SOLI DEO GLORIA...


13 julho, 2013

Tesão Intelectual

Há alguns meses estava certa e convicta de que esse blogg conteria apenas textos sobre minhas vivencias politicas, sobre meu diagnóstico de Esclerose Múltipla e sobre outras questões como musicas, filmes, livros e coisinhas do tipo .
No entanto, cheguei a conclusão que não sou uma pessoa fragmentada  e que  esse blogg nem seria meu se nos assuntos citados acima não tivesse um "bocado de Dalila".
E esse bocado contempla juntamente com a politica, com a EM, com minhas musicas, meus filmes, meus livros, todas as  minhas descobertas, minhas reflexões, meus amigos, minhas paixões, meus gostos, dissabores e algo que denomino de TESÃO INTELECTUAL.
Não vai ter jeito... sem um pouco disso tudo, esse espaço não seria meu, e pra falar a verdade não quero que tenha jeito, sou um pouco de tudo, e esse tudo faz com que eu seja esse EU!!!
Faço das palavras de Álvaro de Campos (Heterônimo de Fernando Pessoa) minhas palavras: "Pertenço à tudo para pertencer cada vez mais a mim próprio...".
Sendo assim, não cabe a mim ignorar as descobertas que atravessam meu caminho, me fascinando,  seduzindo meu intelecto e minha alma através de palavras, de trilhas sonoras, de reflexões políticas, dos assuntos sobre os céus e seus deuses e da grandeza do mundo.
Todos nós deveríamos enxergar que cada pessoa que cruza nosso caminho, tem o poder de imprimir em nossa alma o desejo pela descoberta de si próprio e do outro. Tem o dom de nos dar prazer por sua companhia, tem o cuidado de nos doar do seu tempo para falarmos e sermos ouvidos, sem nunca ter a sensação de que aquelas horas foram  nem por um minuto, o que chamamos de "tempo perdido". Tudo isso de maneira livre, sem cobranças, sem pretensões. Prazer pelo prazer, seja de rir, de chorar ou  de filosofar....
Embora eu seja uma pessoa cercada por muitas pessoas (e agradeço aos deuses por esse privilégio), tenho algumas poucas pessoas que conhecem minha alma, algumas de perto e outras de longe na qual sabem o significado de cada palavra que expresso.
É como se cada uma delas tivessem um tiquinho de mim  e eu um tiquinho delas. Não nos falamos todos os dias, nos vemos eventualmente, mas nos fazemos presentes através de cifras, versos e momentos. ( Sem contar meu "amigo mor", que dorme comigo todos os dias há quase 10 anos).
Por cada uma dessas pessoas que conhecem minha "nudez de alma", tenho uma paixão inexplicável. Pois nenhuma delas negociaram nossa amizade por mais difícil que fosse o problema que tivéssemos enfrentando durante nossa trajetória.
Chego a conclusão que o amor permanece e a paixão só é alimentada (seja em quaisquer tipos de relação) qdo há liberdade, qdo não há cobranças, quando existe espaço pra lealdade e respeito.
Nesse tempo, estou tendo o "TESÃO INTELECTUAL" de descobrir uma nova amizade. Minha sensação é como se minhas convicções, minhas ideologias, meus gostos literários, musicais transcendessem  minha matéria e transbordasse em outra pessoa.
A cada assunto que surge, a cada dia da semana celebrado com uma musica, a cada surpresa cifrada num arquivo de email,  as concordâncias discordadas,  ligações e despedidas despretensiosas pertencentes somente àqueles que possuem alma livre.  
Tenho a sensação que  possuo diante de mim mais um dos tesouros ímpares que uma "modesta sereia" costuma juntar lá do fundo do mar.  Sinto também, que tal tesouro, Tem estado a vontade , encontrando um lugar confortável dentro do  baú da modesta sereia.
Baú repleto de segredos literários, de canções de Chico Buarque, Vinícius de Mores, Marisa Monte, trechos de livros, papos políticos e reflexões existenciais.
 Quem me conhece sabe que não costumo comparar pessoas, cada uma permanece em nossa vida o tempo determinado para escrever em nosso livro um capitulo,  um trechinho da nossa historia. Quer seja um capítulo breve ou um longo capitulo, o prazer de viver intensamente nos lança em abismos sem volta.  Nos faz ler entrelinhas, sorrisos, timbres e angustias que nos encantam dia a dia.
 Estou cada vez mais convicta  que para algumas situações novas acontecerem temos que romper com situações antigas, abrir mão, lançar fora pessoas e situações que possam nos impedir de viver o novo que está bem ali, a nossa frente.
Caso contrario, o peso da bagagem se torna insustentável, negociável e nada prazeroso. 
Precisamos estar cientes que ninguém pertence a ninguém. Somos apenas possuidores de nós mesmos, da nossa integridade, da nossa lealdade para conosco e para com o próximo qdo sentimos reciprocidade. Nossa historia nos pertence hoje, amanha não sabemos a direção que os ventos irão conduzi-la, portanto, nos resta a árdua tarefa de viver como se o minuto seguinte não fosse existir.
Viver como um poeta andarilho, que carrega apenas o q necessita, e junta tesouros atípicos.
Meus tesouros também são atípicos.
Meus tesouros são meus  poucos (e raros) amigos, aqueles que decidem caminhar ao meu lado...


01 julho, 2013

Na mesma estação


Creio que por algumas vezes ja tenha falado sobre a analogia em que nossa vida é como um vagão de um trem...
A cada dia me convenço o quão perfeita e sublime é essa ilustração.
De fato, nossa vida é semelhante a um vagão. Onde durante nossa trajétoria pessoas sobem e descem constantemente em nosso trem.
Algumas pessoas surgem em determinada estação e percorrem conosco por longos percursos. Outras nos acompanham numa breve viagem. Existem aquelas que aparecem, somem - sobem e descem da nossa vida e e quando menos esperamos retornam numa estação mais adiante...
Talvez isso seja viver...
Aos meus olhos, a beleza disso tudo não está no apego de quem segue conosco, nem tampouco na lamúria de quem apenas passa por nós por breves momentos.
Ao meu ver, a beleza está na vivência, na alegria, no prazer de sabermos que algo ficou conosco e algo de nós tambem se foi com cada pessoa que nos permitimos vivenciar quaisquer que sejam as experiências.
Romper elos, relacionamentos, aliviar bagagens é algo necessario a todo ser humano. Mesmo muitos de nós não sabendo lidar com finais, a beleza da vida se encontra também nos recomeços. Nas novas viagens.
Sou uma pessoa de sorte. Os ventos (na maioria das vezes) sopram em meu favor me trazendo pessoas que alegram meu trem.
 Pessoas que com sua amizade transformam aos poucos o cinza, o opaco, o insipto  em cores cintilantes que  trazem sabor e aquecem a alma. Pessoas que acrescentam  ao seu mundo  sensações que aparentemente sempre te pertenceram. Que te lêem e te descobrem com  simplicidade e naturalidade. Que fazem a politica parecer mansa mesmo em tempos de manifestos, que discordam concordando e concordam discordando, que faz a noticia ruim parecer leve, as decepçoes releváveis, os dissabores perdoáveis. Que silencia os barulhos com música e os ruídos com poemas. Que faz pensar como os grandes filósofos, embora traga em sua bagagem uma simplicidade de andarilho.
Mesmo com alma livre de pássaro que conhece os prazeres dos diferentes tipos de vôos, desliza sobre tais trilhos com a segurança de conhecê-los bem. Fazendo com que o caminho, a companhia, o compartilhar politico, espiritual e pessoal se tornem impares e especiais.
Nessa tarde cinzenta de frio e chuva, após ler um presente em palavras que ganhei, tive a necessidade de agradecer aos céus, aos deuses, o privilegio de ser lida por pessoas tão especiais que mesmo em meio a "loucura da cidade", pausam para me ouvir, para dividir comigo musicas, reflexões, poemas e angústias.
Obrigada Obrigada Obrigada....  Mto em breve postarei meu "presente".
...Que a musica, a poesia e a companhia não curem, mas que sempre possam ajudar a amenizar.
 Carpe Diem

Com direito à pseudonimos,
Ao meu Amigo e companheiro Rafael,
com carinho Cássia.... rs







23 junho, 2013

O Gigante acordou enquanto muitos nem dormiam... Estou louca?

Oi genteeee..tdo bem por aqui? Aqueles que "despertaram" se encontram vivinhos e sãos? Que bom!!! rs
Quero escrever hoje, na verdade reproduzir o texto (mto bem escrito da Socióloga e militante Marília Moschkovitch), mas antes falar sobre algumas angustias que permeavam minha "cachola" antes do meu caro  amigo e companheiro Rafael Silva Castro compartilhar comigo o texto dessa socióloga.
Na ultima quinta -feira dia 21, me encontrei ao final do dia simplesmente exausta. Exausta emocionalmente, intelectualmente e pq nao dizer ideológicamente. Estaria eu louca? Mais do que o habitual? rs
Ao ponto de passar os 40 minutos da minha terapia semanal, falando sobre minhas inquietações politicas. Durante a sessão falávamos sobre as manifestações, a imaturidade de algumas posiçoes, etc... meu terapeuta fez o seguinte comentario: "Dá, pra chegarmos a maturidade não podemos pular a infância, ninguem é adulto sem antes ter sido criança... repara mtas pessoas estao dizendo "A" pela manha, "B" a tarde e a noite chegam a conclusão que queriam ter dito "Z". Isso faz parte do processo de construção...." .
Enquanto voltava pra casa sedenta por uma taça de vinho, boas musicas e um misero poeminha do Fernando Pessoa que fosse, fiquei pensando comigo mesma que grande parte  das pessoas que estão presentes nas ruas batendo no peito utilizando o chavão que o "gigante acordou", são as mesmas pessoas que até ontem diziam com veemência que politica , religião e futebol não se discutem! 
Pessoas essas que cobram do prefeito posturas cabíveis ao Governo do Estado, que cobram do Governo Federal posturas cabíveis à outras instancias e assim suscetivamente. 
O que esperar de pessoas que levantam cartazes ovacionando o apartidarismo, frases de ordens totalmente apoliticas, vestidas de branco em nome da paz e que chamam ditadura de revolução? 
Decididamente não podemos nos iludir com esse mero bocejo da classe MERDIA! Pois até ontem, tais pessoas estavam apaticas para quaisquer questões sociaise eis que de repente uma onda de consciencia toma a massa como num "plinnnn magico". 
Minha indignação começou com a ostentação de milhares de pessoas que embora cansadas por alguns motivos comuns aos meus, estavam agindo  (na minha opinião como massa de manobra nas mãos de ideologias de pura má fé). Pseudos cidadãos conscientes e participativos que estão presentes nas ruas, são exatamente os mesmos que não condenam o "homossexualismo" mas acreditam que não é adequado para à familia e à sociedade. Essas são as pessoas que são contra o aborto em quaisquer situações, mas creem que estuprador e assassino merecem pena de morte. Esses, são os que enchem a boca pra redução da maioridade penal e são TOTALMENTE CONTRA às cotas, a valorização afrocultural, a pluralidade religiosa, a reforma agraria e distribuição de renda. 
Estamos todos cansados, contudo, juntamente com a reforma politica necessitaríamos de uma onda geral de consiencia, pra que possamos ir além dessas posturas totalmente contraditorias. 
Mas enfim,vamos ao texto da sociologa, espero que todos aqueles que saem às ruas em passeatas de duas ou mais horas de caminhadas movimentando varios musculos, tenham a mesma disposição de movimentar os neuronios e refletir sobre os fatos abaixo.
 Bjs e ate a proxima!!!
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22 DE JUNHO DE 2013 ÀS 21:19

Por Marília Moschkovich, originalmente publicado em seu blog

Está tudo tão estranho, e não é à toa.

Um relato do quebra-cabeças que fui montando nos últimos dias. Aviso que o post é longo, mas prometo fazer valer cada palavra.

[*nota da autora, adicionada após muitos comentários e compartilhamentos desviando um pouco o sentido do texto: este é um texto de esquerda]

Começo explicando que não ia postar este texto na internet. Com medo. Pode parecer bobagem, mas um pressentimento me dizia que o papel impresso seria melhor. O papel impresso garantiria maiores chances de as pessoas lerem tudo, menores chances de copiarem trechos isolados destruindo todo o raciocínio necessário.

Enquanto forma de comunicação, o texto exige uma linearidade que é difícil. Difícil transformar os fatos, as coisas que vi e vivi nos últimos dias em texto. Estou falando aqui das ruas de São Paulo e da diferença entre o que vejo acontecer e o que está sendo propagandeado nos meios de comunicação e até mesmo em alguns blogs.

Talvez essa dimensão da coisa me seja possível porque conheço realmente muita gente, de vários círculos; talvez porque sempre tenha sido ligada à militância política, desde adolescente; talvez porque tenha tido a oportunidade de ir às ruas; talvez porque pude estar conectada na maior parte do tempo. Não sei. Mas gostaria de compartilhar com vocês.

E gostaria que, ao fim, me dissessem se estou louca. Eu espero verdadeiramente que sim, pois a minha impressão é a de que tudo é muito mais grave do que está parecendo.

Tentei escrever este texto mais ou menos em ordem cronológica. Se não foi uma boa estratégia, por favor me avisem e eu busco uma maneira melhor de contar. Peço paciência. O texto é longo.

1. Contexto é bom e mantém a pauta no lugar

Hoje é dia 18 de junho de 2013. Há uma semana, no dia 10, cerca de 5 mil pessoas foram violentamente reprimidas pela Policia Militar paulista na Avenida Paulista, símbolo da cidade de São Paulo. Com a transmissão dos horrores provocados pela PM pela internet, muitas pessoas se mobilizaram para participar do ato seguinte, que seria realizado no dia 13. A pauta era a revogação no aumento das tarifas de ônibus, que já são caras e já excluem diversos cidadãos de seu direito de ir e vir, frequentando a própria cidade onde moram.

No dia 13, então, aconteceu a primeira coisa estranha, que acendeu uma luzinha amarela (quase vermelha de tão laranja) na minha cabeça: os editoriais da folha e do estadão aprovavam o que a PM tinha feito no dia 10 de junho e, mais do que isso, incentivavam ações violentas da pm“em nome do trânsito” [aliás, alguém me faz um documentário sensacional com esse título, faz favor? ]. Guardem essa informação.

Logo após esses editoriais, no fim do dia, a PM reprimiu cerca de 20milpessoas. Acompanhei tudo de casa, em outra cidade. Na primeira hora de concentração para a manifestação foram presas 70 pessoas, por sua intenção de participar do protesto. Essa intenção era identificada pela PM com o agora famoso “porte de vinagre” (já que vinagre atenua efeitos do gás lacrimogêneo). Muitas pessoas saíram feridas nesse dia e, com os horrores novamente transmitidos - mas dessa vez também pelos grandes meios de comunicação, inclusive esses dos editoriais da manhã, que tiveram suas equipes de reportagem gravemente feridas -, muita gente se mobilizou para o próximo ato.

2. Desonestidade pouca é bobagem

No próprio dia 13, à noite, aconteceu a segunda “coisa estranha”. Logo no final da pancadaria na região da Paulista, sabíamos que o próximo ato seria na segunda-feira, dia 17 de junho. Me incluíram num evento no Facebook, com exatamente o mesmo nome dos eventos do MPL, as mesmas imagens, bandeiras, etc. Só que marcado para sexta-feira, o dia seguinte. Eu dei “ok”, entrei no evento, e comecei a reparar em posts muito, mas muito esquisitos. Bandeiras que não eram as do MPL (que conheço desde adolescente), discursos muito voltados à direita, entre outros. O que estava ali não era o projeto de cidade e de país que eu defendo, ou que o MPL defende.

Dei uma olhada melhor: eram três pessoas que haviam criado o evento. Fucei o pouco que fica público no perfil de cada um. Não encontrei nenhuma postagem sobre nenhuma causa política. Apenas postagens sobre outros assuntos. Lá no fim de um dos perfis, porém, encontrei uma postagem com um grupo de pessoas em alguma das tais marchas contra a corrupção. Alguma coisa com a palavra “Juventude”, não me lembro bem. Ficou claro que não tinha nada a ver com o MPL e, pior que isso, estavam tentando se passar pelo MPL.

Alguém me deu um toque e observei que a descrição dizia o trajeto da manifestação (coisa que o MPL nunca fez, até hoje, sabiamente). Além disso, na descrição havia propostas como “ir ao prédio da rede globo” e “cantar o hino nacional”, “todos vestidos de branco”. O alerta vermelho novamente acendeu na minha cabeça. Hino nacional é coisa de integralista, de fascista. Vestir branco é coisa de movimentos em geral muito ou totalmente despolitizados. Basta um mínimo de perspectiva histórica pra sacar. Pois bem.

Ajudei a alertar sobre a desonestidade de quem quer que estivesse organizando aquilo e meu alerta chegou a uma das pessoas que, parece, estavam envolvidas nessa organização (ou conhecia quem estava). O discurso dela, que conhece alguém que eu conheço, era totalmente despolitizado. Ela falava em “paz”, “corrupção” e outras palavras de ordem vazias que não representam reivindicação concreta alguma, e muito menos um projeto de qualquer tipo para a sociedade, a cidade de São Paulo, etc. Mais um pouco de perspectiva histórica e a gente entende no que é que palavras de ordem e reivindicações vazias aleatórias acabam. Depois de fazer essa breve mobilização na internet com várias outras pessoas, acabaram mudando o nome e a foto do evento, no próprio dia 13 de noitão. No dia seguinte transferiram o evento para a segunda-feira, “para unir as forças”, diziam.

3. E o juiz apita! Começa a partida!

Seguiu-se um final de semana extremamente violento em diversos lugares do país. Era o início da Copa das Confederações e muitos manifestantes foram protestar pelo direito de protestarem. O que houve em sp mostrou que esse direito estava ameaçado. Além disso, com a tal “lei da copa”, uma legislação provisória que vale durante os eventos da FIFA, em algumas áreas publicas se tornam proibidas quaisquer tipos de manifestações políticas. Quer dizer, mais uma ameaça a esse direito tão fundamental numa [suposta] democracia.

No final de semana as manifestações não foram tão grandes, mas significativas em ao menos três cidades: Belo Horizonte, Brasília e Rio de Janeiro. No DF e no RJ as polícias militares seguiram a receita paulista e foram extremamente violentas. A polícia mineira, porém, parecia um exemplo de atuação cidadã, que repassamos, compartilhamos e apoiamos em redes sociais do lado de cá do sudeste.

Não me lembro bem, mas acho que foi no intervalo entre uma coisa e outra que percebi a terceira “coisa estranha”. Um pouco depois do massacre na região da Paulista, e um pouco antes do final de semana de horrores, mais um sinal: ficamos sabendo que uma conhecida distante, depois do dia 13, pegou um ônibus para ir ao Rio de Janeiro. Essa pessoa contou que a PM paulista parou o ônibus na estrada, antes de sair do Estado de São Paulo. Mandaram os passageiros descerem e policiais entraram no veículo. Quando os passageiros subiram novamente, todas as coisas, bolsas, malas e mochilas estavam reviradas. A policial perguntou a essa pessoa se ela tinha participado de algum dos protestos. Pediu pra ver o celular e checou se havia vídeos, fotografias, etc.

Não à toa e no mesmo “clima”, conto pra vocês a quarta “coisa estranha”: descobrimos que, após o ato em BH, um rapaz identificado como uma das lideranças políticas de lá foi preso, em sua casa. Parece que a nossa polícia exemplar não era tão exemplar assim, mas agora ninguém compartilhava mais. Coisas semelhantes aconteceram em Brasília, antes mesmo das manifestações começarem.

4. Sequestraram a pauta?

Então veio a segunda-feira. Dia 17 de junho de 2013. Ontem. Havia muita gente se prontificando a participar dos protestos, guias de segurança compartilhados nas redes, gente montando pontos de apoio, etc. Uma verdadeira mobilização para que muita gente se mobilizasse. Estávamos otimistas.

Curiosamente, os mesmos meios de comunicação conservadores que incentivaram as ações violentas da PM na quinta-feira anterior (13) de manhã, em seus editoriais, agora diziam que de fato as pessoas deveriam ir às ruas. Só que com outras bandeiras. Isso não seria um problema, se as pessoas não tivessem, de fato, ido à rua com as bandeiras pautadas por esses grupos políticos (representados por esses meios de comunicação). O clima, na segunda-feira, era outro. Era como se a manifestação não fosse política e como se não estivesse acontecendo no mesmo planeta em que eu vivo. Meu otimismo começou a decair.

A pauta foi sequestrada por pessoas que estavam, havia alguns dias, condenando os manifestantes por terem parado o trânsito, e que são parte dos grupos sociais que sempre criminalizaram os movimentos sociais no Brasil (representados por um pedaço da classe política, estatisticamente o mais corrupto - não, não está nem perto de ser o PT -, e pelos meios de comunicações que se beneficiam de uma política de concessões da época da ditadura). De repente se falava em impeachment da presidenta. As pessoas usavam a bandeira nacional e se pintavam de verde e amarelo como ordenado por grandes figurões da mídia de massas, colunistas de opinião extremamente populares e conservadores.

As reações de militantes variavam. Houve quem achasse lindo, afinal de contas, era o povo nas ruas. Houve quem desconfiasse. Houve quem se revoltasse. Houve quem, entre todos os sentimentos possíveis, ficasse absolutamente confuso. Qualquer levante popular em que a pauta não eh muito definida cria uma situação de instabilidade política que pode virar qualquer coisa. Vimos isso no início do Estado Novo e no golpe de 1964, ambos extremamente fascistas. Não quer dizer que desta vez seria igual, mas a história me dizia pra ficar atenta.

5. Não, sequestraram o ato!

A passeata do dia 17, segunda-feira, estava marcada para sair do Largo da Batata, que fica numa das pontas da avenida Faria Lima. Não se sabia, não havia decisão ainda, do que se faria depois. Aos que não entendem, a falta de um trajeto pré-definido se justifica muito bem por duas percepções: (i) a de que é fácil armar emboscadas para repressão quando divulga-se o trajeto; e, (ii) mais importante do que isso, a percepção de que são as pessoas se manifestando, na rua, que devem definir na hora o que fazer. [e aqui, se vocês forem espertos, verão exatamente onde está a minha contradição - que não nego, também me confunde]

A passeata parecia uma comemoração de final de copa do mundo. Irônico, não? Começamos a teorizar (sem muita teoria) que talvez essa fosse a única referência de manifestações públicas que as pessoas tivessem, em massa:o futebol. Os gritos eram do futebol, as palavras de ordem eram do futebol. Muitas camisetas também eram do futebol.Havia inclusive uns imbecis soltando rojões, o que não é muito esperto pois pode gerar muito pânico considerando que havia poucos dias muita gente ali tinha sido bombardeada com gás lacrimogêneo. Havia pessoas brincando com fogo. [guardem essa informação do fogo também]

Agora uma pausa: vocês se lembram do fato estranho número dois?O evento falso no facebook? Bom, o trajeto desse evento falso incluía a Berrini, a ponte Estaiada e o palácio dos Bandeirantes, sede do governo do Estado. Reparem só.

Quando a passeata chegou ao cruzamento da Faria Lima com a Juscelino, fomos praticamente empurrados para o lado direito. Nessa hora achamos aquilo muito esquisito. Em nossas cabeças, só fazia sentido ir à Paulista, onde havíamos sido proibidos de entrar havia alguns dias. Era uma questão de honra, de simbologia, de tudo. Resolvemos parar para descobrir se havia gente indo para o lado oposto e subindo a Brigadeiro até a Paulista. Umas amigas disseram que estavam na boca do túnel. Avisei pra não irem pelo túnel que era roubada. Elas disseram então que estavam seguindo a passeata pela ponte, atravessando a Marginal Pinheiros.

Demoramos um tanto pra descobrirmos, já prontos pra ir para casa broxados, que havia gente subindo para o outro lado. Gente indo à esquerda. Era lá que preferíamos estar. Encontramos um outro grupo de pessoas conhecidas e amigas e seguimos juntos. As palavras de ordem não mudaram. Eram as mesmas em todos os lugares. As pessoas reproduziam qualquer frase de efeito tosca de maneira acrítica, sem pensar no que estavam dizendo. Efeito “multidão”, deve ser.

As frases me incomodaram muito. Nem uma só palavra sobre o governador que ordenara à PM descer bala, cassetete e gás na galera havia poucos dias. Que promove o genocídio da juventude negra nessa cidade todos os dias, há 20 anos. Nem mesmo uma. Os culpados de todos os problemas do mundo, para os verde-amarelos-bandeira-hino eram o prefeito e a presidenta. Ou essas pessoas são ignorantes, ou são extremamente desonestas.

Nem chegamos à Paulista, incomodados com aquilo. Fomos para casa nos sentindo muito esquisitos. Aí então conseguimos entender que aquelas pessoas do evento falso no facebook tinham conseguido de alguma maneira manobrar uma parte muito grande de pessoas que queria ir se manifestar em outro lugar. A falta de informação foi o que deu poder para esse grupo naquele momento específico. Mas quem era esse grupo? Não sei exatamente. Mas fiquei incomodada.

6. O centro em chamas.

Quem diria que essa sensação bizarra e sem nome da segunda-feira faria todo sentido no dia seguinte? Fez. Infelizmente fez. O dia seguinte, “hoje”, dia 18 de junho de 2013, seria decisivo. Veríamos se as pessoas se desmobilizariam, se a pauta da revogação do aumento se fortaleceria. Essa era minha esperança que, infelizmente, não se confirmou. A partir daqui são todos fatos recentes, enquanto escrevo e vou tentar explica-los em ordem cronológica. Aviso que foram fazendo sentido aos poucos, conforme falávamos com pessoas, ouvíamos relatos, descobríamos novas informações. Essa é minha tentativa de relatar o que eu vi, vivi, experienciei.

No fim da tarde, pegamos o metrô Faria Lima lotadíssimo um pouco depois do horário marcado para a manifestação. Perguntei na internet, em redes sociais, se o ato ainda estava na concentração ou se estava andando, e para onde. Minha intenção era saber em qual estação descer. Me disseram, tomando a televisão como referencia (que é a referencia possível, já que não havia um único comunicado oficial do MPL em lugar algum) que o ato estava na prefeitura. Guardem essa informação.

Fomos então até o metrô República. Helicópteros diversos sobrevoavam a praça e reparei na quinta “coisa estranha”: quase não havia polícia. Acho que vimos uns três ou quatro controlando curiosamente a ENTRADA do metrô e não a saída… Quer dizer, quementrasse no metro tinha mais chance de ser abordado do que quem estava saindo, ao contrário do dia 13.

A manifestação estava passando ali e fomos seguindo, até que percebemos que a prefeitura era outro lado. Para onde estavam indo essas pessoas? Não sabíamos, mas pelos gritos, pelo clima de torcida de futebol, sabíamos que não queríamos estar ali, endossando algo em que não acreditávamos nem um pouco e que já estávamos julgando sermeio perigoso. Quando passamos em frente à câmara de vereadores, a manifestação começou a vaiar e xingar em massa. Oras, não foram eles também que encheram aquela câmara com vereadores? O discurso de ser “apolítico” ou “contra” a classe política serve a um único interesse, a história e a sociologia nos mostram: o dos grupos conservadores para continuarem tocando a estrutura social injusta como ela é, sem grandes mudanças. Pois era esse o discurso repetido ali.

Resolvemos então descer pela rua Jandaia e tentar voltar à Sé, poisdisseram nas redes sociais que o ato real, do MPL, estava no Parque Dom Pedro. Como aquilo fazia mais sentido do que um monte de pessoas bem esquisitas, com cartazes bem bizarros, subindo para a Paulista, lá fomos nós.

Outro fato estranho, número seis: no meio da Rua Jandaia, num local bem visível para qualquer passante nos viadutos do centro, um colchão em chamas. A manifestação sequer tinha passado ali. Uma rua deserta e um colchão em chamas. Para quê? Que tipo de sinal era aquele? Quem estava mandando e quem estava recebendo? Guardamos as mascaras de proteção com medo de sermos culpados por algo que não sabíamos sequer de onde tinha vindo e passamos rápido pela rua.

Cruzamos com a mesma passeata, mais para cima, que vinha lá da região que fica mais abaixo da Sé, mas não sabíamos ainda de onde. Atrás da catedral, esperamos amigos. Uma amiga disse que o marido estava chateado porque não conseguiu pegar trem na Vila Olímpia. Achamos normal, às vezes a CPTM trava mesmo, daí essa porcaria de transporte e os protestos, etc. pois bem. Guardem a informação.

Uma amiga ligou dizendo que estava perto do teatro municipal e do Vale do Anhangabaú, que estava “pegando fogo”. Imbecil que me sinto agora, na hora achei que ela estava falando que estava cheio de gente, bacana, legal. [que tonta!] Perguntei se era o ato do MPL, se tinha as faixas do MPL. Ela disse que sim mas não confiei muito.Resolvemos ir ver.

[A partir daqui todos os fatos são “estranhos”. Bem estranhos.]

O clima no centro era muito tenso quando chegamos lá. Em nenhum dos outros lugares estava tão tenso. Tudo muito esquisito sem sabermos bem o quê. Os moradores de rua não estavam como quem está em suas casas. Os moradores de rua estavam atentos, em cantos, em grupos. Poucos dormiam. Parecia noite de operação especial da PM (quem frequenta de verdade a cidade de São Paulo, e não apenas o próprio bairro, sabe bem o que é isso entre os moradores de rua).

Só que era ainda mais estranho: não havia polícia. Não havia polícia no centro de São Paulo à noite. No meio de toda essa onda. Não havia polícia alguma. Nadinha de nada, em lugar nenhum.

Na Sé, descobrimos mais ou menos o caminho e fomos mais ou menos andando perto de outras pessoas. Um grupo de franciscanos estava andando perto de nós, também. Vimos uma fumaça preta. Fogo. MUITO fogo. Muito alto. O centro em chamas.

Tentamos chegar mais perto e ver. Havia pessoas trepadas em construções com latas de spray enquanto outros bradavam em volta daquela coisa queimando que não conseguíamos identificar. Outro colchão? Os mesmos que deixaram o colchão queimando na Jandaia? Mas quem eram eles?

De repente algumas pessoas gritaram e nós,mais outros e os franciscanos, corremos achando que talvez o choque estaria avançando. Afinal de contas, era óbvio que a polícia iria descer o cacete em quem tinha levantado aquele fogaréu (aliás, será q ela só tinha visto agora, que estava daquele tamanho todo?). Só que não.

Na corrida descobrimos que era a equipe da TV Record. Estavam fugindo do local - a multidão indo pra cima deles - depois de terem o carro da reportagem queimado. Não, não era um colchão. Era o carro de reportagem de uma rede de televisão. O olhar no rosto da repórter me comoveu. Ela, como nós, não conseguia encontrar muito sentido em tudo que estava acontecendo. Ao lado de onde conversávamos, uns quatro policiais militares. Parados. Assistindo o fogo, a equipe sendo perseguida… Resolvemos dar no pé que bobos nós não somos. Tinha algo muito, mas muito errado (e estranho) ali.

Voltamos andando bem rápido para a Sé, onde os moradores de rua continuavam alertas, e os franciscanos tentavam recolher pertences caídos pelo chão na fuga e se organizarem novamente para dar continuidade a sua missão. Nós não fomos tão bravos e decidimos voltar para nossas casas.

7. Prelúdio de um… golpe?

No metrô um aviso: as estações de trem estavam fechadas. É, pois é, aquela coisa que havíamos falado antes e tal. Mal havíamos chegado em casa, porém, uma conhecida posta no facebook que um amigo não conseguiu chegar em lugar nenhum porque algumas pessoas invadiram os trilhos da CPTM e várias estações ficaram paradas, fechadas. Não era caos “normal” da CPTM, nem problemas “técnicos” como a moça anunciava. Era de propósito. Seriam os mesmos do colchão, do carro da Record?

Lemos, em seguida, em redes sociais, que havia pessoas saqueando lojas e destruindo bancos no centro. Sabíamos que eram o mesmos. Recebi um relato de que uma ocupação de sem-teto foi alvo de tentativa (?) de incêndio. Naquele momento sabíamos que, quem quer que estivesse por trás do “caos” no centro, da depredação de ônibus na frente do Palácio dos Bandeirantes no dia anterior, de tentativas de criar caos na prefeitura, etc. não era o MPL. Também sabíamos que não era nenhum grupo de esquerda: gente de esquerda não quer exterminar sem-teto. Esse plano é de outro grupo político, esse que manteve a PM funcionando nos últimos 20 anos com a mesma estrutura da época da ditadura militar.

Algum tempo depois, mais uma notícia: em Belo Horizonte, onde já se fala de chamar a Força Nacional e onde os protestos foram violentíssimos na segunda-feira, havia ocorrido a mesma coisa.Depredação total do centro da cidade, sem nenhum policial por perto. Nenhunzinho. Muito estranho.

Nessa hora eu já estava convencida de que estamos diante de uma tentativa muito séria de golpe, instauração de estado de exceção, ou algo do tipo. Muito séria. Muito, muito, muito séria. Postei algumas coisas no facebook, vi que havia pessoas compartilhando da minha sensação. Sobretudo quem havia ido às ruas no dia de hoje.

Um pouquinho depois, outra notícia: a nova embaixadora dos EUA no Brasil é a mesma embaixadora que estava trabalhando no Paraguai quando deram um golpe de estado em Fernando Lugo.

Me perguntaram e eu não sei responder qual golpe, nem por que. Mas se o debate pela desmilitarização da polícia e pelo fim da PM parece que finalmente havia irrompido pelos portões da USP, esse seria um ótimo motivo. Nem sempre um golpe é um golpe de Estado. Em 1989 vivemos um golpe midiático de opinião pública, por exemplo. Pode ser que estejamos diante de outro. Essa é a impressão que, ligando esses pontos, eu tenho.

Já vieram me falar que supor golpe “desmobiliza” as pessoas, que ficam em casa com medo. De forma alguma. Um “golpe” não são exércitos adentrando a cidade. Não necessariamente. Um “golpe” pode estar baseado na ideia errônea de que devemos apoiar todo e qualquer tipo de indignação, apenas porque “o povo na rua é tão bonito!”.

Curiosamente, quando falei sobre a manifestação do dia 13 com meus alunos, no dia 14, vários deles me perguntaram se havia chances de golpes militares, tomadas de poder, novas ditaduras. A minha resposta foi apenas uma, que ainda sustento sobre este possível golpe de opinião pública/mídia: em toda e qualquer tentativa de golpe, o que faz com que ela seja ou não bem-sucedida é a resposta popular ao ataque. Em 1964, a resposta popular foi o apoio e passamos a viver numa ditadura. Nos anos 2000, a reposta do povo venezuelano à tentativa de golpe em Chávez foi a de rechaço, e a democracia foi restabelecida.

O ponto é que depende de nós. Depende de estarmos nas ruas apoiando as bandeiras certas (e há pessoas se mobilizando para divulgar em tempo real, de maneira eficaz, onde está o ato contra o aumento da passagem, porque já não podemos dizer que é apenas “um” movimento, como fez Haddad em sua entrevista coletiva). Depende de nos recusarmos a comprar toda e qualquer informação. Depende de levantarmos e irmos ver com nossos próprios olhos o que está acontecendo.

[ escrevi um pouco melhor sobre como eu acho que esse “golpe” continua se desenhando; somando novas peças ao quebra-cabeças. leia aqui se interessar]

Se essa sequencia de fatos faz sentido pra você, por favor leia e repasse o papel. Faça uma cópia. Guarde. Compartilhe. Só peço o cuidado de compartilharem sempre integralmente. Qualquer pessoa mal-intencionada pode usar coisas que eu disse para outros fins. Não quero isso.

Quero apenas que vocês sigam minha linha de raciocínio e me digam: estamos mesmo diante da possibilidade iminente de um golpe?

Estou louca?