
-Senhora. Por favor senhora, não é permitido usar o celular dentro do avião!
Mas que chatice!!! Pensei.
Dei um sorrisinho sem graça e logo tratei de cumprir a regra.
Estranho e lamentavel, foi, que durante minha ida a Recife, não apareceu nenhuma daquelas irritavelmente lindas moçoilas para dizer ao senhor que assentava ao meu lado:
-Senhor. Por favor senhor, não é permitido arrancar os sapatos fedorentos, ao lado de senhoras finas e educadas como esta que tens ao seu lado.
Ou então, senhor, queira por favor parar de roncar, pois esta atrapalhando a concentração do comandante responsável por nosso voo!
Pra isso ninguem me apareceu! Mas enfim, a verdade é que torci pra que ao meu lado se sentasse uma companhia bem agradavel, para que eu pudesse me distrair durante o voo, com assuntos variados, que fosse bem humorado, falasse sobre literatura, musica e coisas do tipo.
Acha que estava querendo demais? Não mesmo.
Durante o embarque tive o prazer repentino( e bota repentino nisso!)de cruzar com um homem, elegante, de terno, com um livro na mão que assentou-se ao meu lado no onibus que nos levaria ate a pista de decolagem.
Pediu licença e com um sotaque lindo (pernambucano) elogiou minha tatuagem.
- Bonito traçado! O que está escrito nega? ( O nega foi por minha conta, é que eu adoroooo!rs)
ALEA JACTA EST... A sorte esta lançada...
-Muito bom. Mora em Recife? Ou esta indo a trabalho?
Respondi que não morava, mas estava em uma missão, e que não se tratava exatamente de um trabalho.
O moço simpatico, estava voltando de Goiania, estava la a trabalho, e comentou delicadamente que eu estranharia o calor de Pernambuco, pois era evidente que eu não era muito amiga do sol. (Não entendi o comentário, mas tdo bem!!!)
Logo pensei, minhas preces foram ouvidas!!! Bom papo ate Pernambuco.
Pura Ilusão!!!
O moço do chulé foi quem se sentou ao meu lado!E cada vez que ele cochilava, quase caindo em cima de mim, eu tratava de tossir, simular um engasgo ou ascender as luzinhas de leitura mirando bem na fuça dele!
Depois de viver dias incriveis, eis que chegou a hora de voltar p casa.
Nada de grandes expectativas com relação ao companheiro ou companheira de volta.
Vou dormir, esta decidido!
Depois de chorar, e contemplar o quanto Deus foi generoso com aquele povo, afinal eita lugar lindo, fechei os olhos e cochilei.
Ao meu lado, sentou-se um rapaz de uns 19 anos, estiloso e na dele.
Minha surpresa foi acordar com o aviso da cabine para que os cintos fossem apertados porque haveria pela frente uma forte turbulencia.
O céu azul, e a linda paisagem, deram lugar para solavancos e um cinza grafite tipico de filmes de terror.
Não me contive,olhei pro garoto e perguntei se ainda estavamos vivos. Com um sorriso ele me sugeriu que olhasse em volta.

Era gente rezando e um senhor apavorado, suando feito um beduino perdido no deserto.
-Xiiiii preciso de um rosario, um terço não daria conta de me absolver de todos pecados.
Foram momentos de medo e vertigem mais engraçados da minha vida! Bela companhia, rimos, lembramos de cenas de filmes de comedia e terror, falamos sobre a viagem e as caras apavoradas daqueles homens serios que nos cercavam. Entre o choro e a reza de alguns, estavamos nós ali, dispostos a morrer felizes. Felizes pela viagem, felizes pelo medo, e pela companhia engraçadissima que ambos haviamos encontrado. Cada detalhe virava piada, originada pelo nervoso de um avião que não podia sob hipotese alguma pousar por conta da forte chuva.
Enfim, o que quero concluir, que mais uma vez faço menção e acredito no exito da frase que Guimarães Rosa escreveu: "Felicidade se acha em horinhas de descuido!"
Qdo as coisas acontecem naturalmente somos tao mais surpreendidos do que qdo ensaiamos e projetamos minuciosamente algo ou alguma situação!
Nada de literatura, musica ou coisa do tipo.
Obvio que nao devemos estabelecer generalizações, mas...
aquele garoto, Claudio, foi perfeito para a ocasião e pela divertidissima companhia! rs

Ps: Um dia conto que tu quase perdeu o voo p Curitiba, que nossas bagagens foram pra plataforma errada, que a vontade de fazer xixi aumentava conforme a intensidade da chuva que caia, sem contar no senso de humor incrivel do piloto, ao nos tranquilizar sobre a turbulencia...kkkkkk Sobrevivemos amigo!!!